domingo, 12 de abril de 2009

Wanderlei garante: “Ainda tenho muita lenha pra queimar”


Em entrevista para o Portal do Vale Tudo:

Wanderlei Silva segue com muito crédito com a direção do UFC. Mesmo com sua derrota para Quinton Jackson, no UFC 92, o brasileiro foi escalado para fazer a luta principal do UFC 99 contra Rich Franklin. O evento será realizado no dia 13 de junho, na Alemanha, e o ex-campeão do Pride já treina duro para este desafio. Em entrevista exclusiva ao Portal do Vale Tudo, Wanderlei garante que está longe de se aposentar e afirma estar trabalhando muito para corrigir os principais erros que causaram suas últimas derrotas.


Portal do Vale Tudo - Wanderlei, como estão seus planos para este ano e como tem sido esse início de 2009?

Wanderlei Silva - Os planos estão ótimos, agora estou mais estruturado, com minha escola pronta, e estamos com uma procura muito grande de novos alunos. Estou formando meu time, e trouxe pra cá o Vitor Viana, que veio me ajudar e se integrar à equipe. Estou contando com a visita dos amigos, recebi nos últimos dias uma visita muito proveitosa do Saulo e do Xande Ribeiro. Fizemos um intercambio muito bom, os caras realmente são muito bons de Jiu-Jitsu, nos passaram umas técnicas muito boas. Sempre vem alguém aqui, sempre tem alguém aqui na cidade e a gente sempre tem a oportunidade de treinar com alguém diferente.


PVT - E a academia que você acabou de inaugurar, como está?

Wanderlei - Consegui inaugurá-la nesse começo de março. Estamos com muita coisa boa, um octagon oficial, tudo aquilo que o pessoal já viu no vídeo. Ficou tudo do jeito que a gente queria. A parte de preparação física ficou bem completa, realmente estou bem servido com a estrutura que eu e o professor Rafael Alejarra conseguimos montar aqui. Sem dúvida nenhuma, acho que vamos conseguir começar a colher os frutos bem antes do que a gente imagina. Estou lançando uma agência também pra cuidar de atletas, estamos com muitos caras novos e alguns conhecidos que tem nos procurado. A gente tem muito contato, estou com a estrutura da academia montada, então meu diferencial em relação aos outros managers é que não vou poder cobrar o dinheiro dos caras sem oferecer nada, vou fornecer o treinamento, todo o aparato, além de conseguir lutas. Estou tendo o contato com todos os eventos por aqui, então quero preparar bem todos os atletas e poder mostrar que as qualidades dos nossos atletas são muito boas. A gente não vai só colocar os caras pra lutar, temos que colocar realmente pra fazer frente e entrar pra ganhar.


PVT - A direção do UFC lhe deu mais uma pedreira pra enfrentar, o Rich Franklin. O que você espera deste combate?

Wanderlei - Eu fico contente de poder estar lutando com atletas cada vez melhores. Todos os atletas que eu peguei no UFC são de nível muito bom. Eu quero ser testado ao meu limite, quero enfrentar os melhores e sempre proporcionar um bom espetáculo aos meus fãs. Às vezes sou criticado por isso, lógico que sempre quero ganhar, treino pra isso, mas eu também me importo com a qualidade da minha performance. Eu quero proporcionar um espetáculo muito bom pra quem está em casa. Tem muita gente que chega e fala, principalmente depois dessa última luta, que tenho que me aposentar. Que nada, ainda sou novo e tenho muita lenha pra queimar. Esse pessoal vai ter que esperar por um bom tempo. Enquanto eu ouvir uma pessoa, na hora que eu for entrar no octagon, dizer “Vamos ver essa, porque essa vai ser boa”, enquanto tiver uma pessoa falando isso, vou continuar lutando.


PVT - Já assistiu as lutas do Rich Franklin? O que achou dele?

Wanderlei - As lutas que eu tinha visto antes era só contra o Anderson, e nelas ele não conseguiu mostrar muita coisa, pois o Anderson anulou o jogo dele completamente, tirou ele pra nada. Mas agora eu peguei as lutas dele, pra fazer um estudo, e vi que ele é um cara completo, que sabe chão, sabe em pé, sabe derrubar e defender quedas. Acho que é um ótimo adversário, é um cara duro, estou treinando muito, todos os dias, saindo na mão. Estou batendo muito no Vitor Viana, já que vamos colocá-lo pra lutar em breve, daí até falei pra ele “Olha, vou te bater tanto, que quando você pegar outro você vai matar, vai descontar tudo que eu faço em você” (risos). O Vitor realmente é um cara nota dez, tanto como pessoa quanto como sparring. Ele é um cara que me surpreendeu, e daqui pra frente o pessoal vai ouvir falar muito dele. Ele vai incomodar.


PVT - Como tem sido seus treinos aí em Las Vegas? O que tem feito em seus treinamentos?

Wanderlei - Eu perdi minha última luta por um erro técnico, um erro que cometo há muito tempo, eu paguei muito por isso. Perdi seis meses de trabalho por socar aberto e levar um soco no queixo. Tendo em vista isso, estou tentando me reciclar de tudo. Ontem fiquei uma hora fazendo trabalho de jab e direto, movimentação, queda, etc. Estou com um professor muito bom de Boxe, um professor muito bom de Wrestling, um muito bom de Muay Thai, estou com caras bons pra treinar. Estou fazendo o básico do básico, pois realmente o básico bem feito pode ser muito bem aproveitado. Em cima desse básico, espero me livrar de alguns vícios, como socar aberto, me expor muito, às vezes luto muito com o coração, quando vou pra cima me abro mesmo. Estou tentando corrigir isso e ser agressivo da mesma maneira, mas de uma maneira mais técnica e mais segura. Realmente espero mostrar um jogo já diferente na próxima luta. São vícios que tenho há muito tempo, não é fácil corrigir, pois quando bate a adrenalina e você começa a dar e receber socos, você vai no instinto. Então, dentro do possível, estou me estruturando pra perder esses vícios e adquirir uma técnica nova e mais refinada, pra adaptar a esse novo momento do vale tudo e voltar pras cabeças, pois é isso que quero.


PVT - O Sérgio Cunha, que foi seu treinador quando ambos eram da Chute Boxe, disse à Tatame que faltava você usar mais o Muay Thai em suas lutas, como clinchar e soltar joelhadas. Você concorda com essa análise?

Wanderlei - Eu não cheguei a clinchar meus adversários, mas estou treinando bastante clinche agora, bastante Muay Thai. Treino bastante de tudo. Estou tentando dar uma reciclada total no meu jogo, e isso inclui o clinche, as joelhadas, e se ele me der o pescoço, vou fazer que nem o Anderson fez, vou nocauteá-lo, por que não?


PVT - Este será o primeiro UFC na Alemanha. Qual sua expectativa?

Wanderlei - É uma responsabilidade muito grande. É um novo mercado, e o UFC está abrindo esse mercado. A Alemanha é o terceiro PIB mundial, só perde para os EUA e a China, então realmente é um mercado incrível. Estou com a responsabilidade de fazer a luta principal da noite, isso pra mim está sendo uma honra muito grande. Fazer o main event de um UFC é o sonho de qualquer atleta, inclusive o meu. Eu não vou fazer feio, sei da minha responsabilidade. Eles me deram um cara bom, com um estilo de luta bem agressivo, que vai pra frente. Eu também não fujo da raia, não fujo do jogo, comigo é soco na cara mesmo. É faca na caveira! (risos) Eu vou lá, vou mostrar todo o meu coração, toda minha técnica e fazer um grande espetáculo pra galera. Espero poder fazer um grande espetáculo, porque eu luto com o coração mesmo. Eu vou com tudo, vou pra cair ou pra derrubar, não tenho meio termo.


PVT - Seu amigo Mauricio Shogun enfrentará o Chuck Liddell no mês que vem. O que você espera deste combate?

Wanderlei - Vai ser uma luta muito importante pro Shogun, será um divisor de águas pra ele. Aliás, para os dois, porque o Liddell está com a corda no pescoço. Eu vi umas declarações do patrão (Dana White) dizendo que poderia mandá-lo embora, não sei se faria isso, mas falou. Os papos que rolam aqui em relação ao Liddell é de que ele casou, não sai mais pra noite, vai de casa pra academia e da academia pra casa. Parece que ele está treinando que nem um louco e que disse que vai com tudo pra cima do Shogun. Eu espero que o Shogun esteja se preparando bem. Conversei muito com ele aqui, gosto muito dele. Ele está com um ótimo professor, realmente o Sérgio Cunha é muito bom, além de estar na equipe do Demian, então acho que fará um ótimo trabalho. Foi o que falei pra ele, que o Liddell não é o Coleman. Ele é um cara agressivo, tem a mão pesada e não tem essa, se pegar no queixo vai pra baixo. O estilo de luta do Shogun é um estilo muito agressivo, que tem que ter muito cardio, pois ele não para. Ele vai pra cima com socos, chutes, joelhadas, e vai atropelando, ele não tem essa de parar. Então ele tem que dar uma atenção pro cardio boa, porque o estilo dele exige bastante cardio. Ele é um cara muito talentoso, antigamente se ele ficasse uma hora chutando um saco de pedra, ele estava pronto, porque é um cara muito talentoso. Mas a idade chega pra todo mundo, inclusive pra ele, então com o passar do tempo ele vai percebendo que não dá pra se preparar de qualquer jeito, tem que ter uma preparação mais elevada. Os caras estão cada vez melhores por aqui. O Shogun é um cara que logo pode disputar o cinturão, ele é um que está na linha de frente. Eu acredito nele, acho que terá uma grande performance contra o Liddell. Eu não me surpreenderia se ele nocauteasse ou finalizasse. Se botar pra baixo ele pega, acho que finaliza no segundo round.


PVT - Você e o Minotauro há muito tempo são os dois maiores ídolos do Brasil no esporte, mas estavam em lados opostos no passado. Como foram esses treinos juntos antes do UFC 92?

Wanderlei - Pra mim foi uma grande honra, porque o Minotauro é aquilo tudo que falavam dele mesmo. Falavam que ele era isso e aquilo, que era gente boa e tal, mas eu não o conhecia pessoalmente. Realmente é um cara nota mil, é simples, humilde, é um espelho aí do nosso esporte, dos nossos ídolos do Brasil. Ele ainda tem muita lenha pra queimar, ao contrário do que algumas pessoas imaginam. Não é uma luta que vai apagar tudo que o cara já fez. Ele estava com algumas lesões, com o joelho machucado, tinha operado o cotovelo, ele tava meio quebrado. Agora ele parou um pouco, operou o joelho, e vai voltar com tudo. Ele tem tudo pra ganhar do Frank Mir no futuro, a próxima luta deve ser contra o Randy Couture, e acho que é uma luta boa pra ele. O Minotauro é um ótimo atleta, estava muito bem treinado e com um ótimo time, ao contrário do que as pessoas falam, que estava mal. Ele estava treinando todos os dias, mas infelizmente a luta não ocorreu do jeito que se pretendia e aquilo aconteceu, isso pode acontecer com todo mundo, isso não apaga nada do que ele já fez. Ele é um dos nossos grandes ídolos, eu já gostava do estilo do cara, agora virei fã dele também. Eu pude conhecer o cara, é um cara nota mil. Quando ele quiser voltar aqui, a academia estará de portas abertas pra ele, ele tem passe livre. Ele, o irmão dele, e quem ele quiser indicar. Nós vamos dar sempre o melhor pra que ele possa mostrar o seu potencial, porque o Minotauro ainda tem muita lenha pra queimar.


PVT
- Você acompanha muito os comentários dos fãs na Internet, seja através do Fórum do Portal, em fóruns gringos, no seu blog, etc. Como você viu as críticas que fizeram a você logo após sua derrota para o Quinton Jackson? Algumas pessoas falavam até em aposentadoria.

Wanderlei - O mundo é assim, nosso esporte é muito competitivo. O nível está se elevando de uma maneira muito rápida, os caras estão cada vez mais fortes, rápidos e técnicos. A gente tem que estar numa constante elevação tanto na parte técnica quanto na parte física. Tem muita gente nova surgindo, um bom exemplo disso foi a luta do Stephan Bonnar contra o Jon Jones. Esse Jon Jones é um cara de 21 anos, lutou com o Bonnar e deu um puta dum calor, mas vai dizer que o cara está acabado? Não está, o estilo não casou e vai pra próxima. Às vezes, o fã é muito imediatista, ele vê um resultado e as primeiras críticas que vêm são essas, de que o cara está acabado. O amor e o ódio andam muito juntos, o nosso meio é assim. Por exemplo, o Shogun teve aquela luta contra o Coleman, cansou, mas cansou por quê? Porque o Coleman é um cara muito forte. Ele quase nocauteou no primeiro round, mas fazer o quê? Fazia tempo que ele não lutava, mas ganhou. Agora vai pegar o Liddell, chega lá e nocauteia o Liddell, volta ao topo de novo. Então isso que é o bom do nosso esporte, você perde uma ou duas e está lá em baixo, mas nocauteia um cara bom, volta lá pra cima de novo. A mesma maneira que desce, é a mesma que sobe, não tem muito dessa. É o que costumo dizer, o atleta tem que filtrar todas as informações, porque têm muitos fãs que são bem coerentes em seus comentários, alguns são especialistas, analisam o jogo e tudo mais. Eu leio os comentários, vejo uns caras que não entendem nada, mas muitos analisam muito bem, vêem a parte técnica, se um golpe realmente foi bem encaixado, se o cara teve um erro técnico, se cansou, por que cansou, vêem o porquê das coisas, não só o resultado. O cara vê a luta, analisa e dá um parecer coerente. Esse fã é um cara que até nos ajuda. Eu leio os comentários e às vezes até percebo meus erros. Têm caras que dizem que eu tenho que melhorar minha técnica, eu sei disso. Então muitas coisas que as pessoas falam estão certas. Mas os fãs imediatistas, que só analisam os resultados, até tem o seu valor, óbvio, mas você tem que entender e saber a respeito do que está falando. A gente deveria sempre apoiar nossos ídolos, dar força a eles, criticar, mas de uma maneira coerente, pois as criticas construtivas são sempre bem vindas. Não vou mentir pra você, há coisas ruins. Vi os comentários aqui nos EUA, com pessoas dizendo que eu ia dar a volta por cima, isso e aquilo. Daí fui ver os meus conterrâneos e uns diziam que eu tava acabado, que tinha que me aposentar, etc. Isso realmente nos deixa chateado. Mas fazer o quê? O outro lado da moeda é que os meus fãs, os meus mesmo, estão comigo em qualquer situação, eles nunca me abandonam. São caras que, no dia que eu falar que vou me aposentar, vão chorar e pedir pra não parar. São esses caras que, se eu tivesse oportunidade, dava uma passagem e um ticket pra cada um vir me ver lutar pessoalmente. São caras que eu gostaria que viessem me visitar, pra eu poder conhecê-los e apertar a mão de cada um pessoalmente. São esses caras que me inspiram, que me levantam quando estou pra baixo, quando estou dolorido, cansado, desanimado. Esses caras me fazem continuar.


PVT - Pra terminar, deixe aquele seu tradicional recado para os fãs.

Wanderlei - Eu quero agradecer a força de todo mundo. Eu não estou aí no Brasil, mas acompanho o Portal diariamente, é um site onde vejo todas as noticias que rolam no mundo do MMA, que não deixa nada a desejar aos maiores sites do mundo. Quero agradecer muito aos fãs de todo o mundo, que estão comigo na vitória e na derrota. O pessoal sabe que dou meu sangue e meu coração. Espero que eu possa continuar sempre defendendo nossa bandeira, nosso sangue, proporcionando sempre um bom espetáculo pra todo mundo, e trazer mais uma vitória, pois estou precisando muito disso. Estou treinando muito, todos os dias, estou dando o meu melhor e espero que no dia 13 de junho a galera faça um churrasco e que eu não coloque água no chopp da galera (risos). Às vezes isso acontece, mas fazer o quê? Desta vez será diferente, se Deus quiser. Estou treinando diferente, estou me lapidando, tentando cortar meus erros, pra poder proporcionar um bom espetáculo pro pessoal e, se Deus quiser, trazer mais uma vitória. Deus vai me ajudar, vai me abençoar, pra trazer essa vitória pra nós. Um grande abraço, fiquem com Deus, e quando vierem a Las Vegas, venham me visitar aqui na minha academia. Um abraço a todos!

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